sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Considerações sobre a Primeira Guerra Mundial

Acho que já é hora deste blog retornar um pouco ao seu propósito original. Após um tempo servindo como diário pessoal, vou passar a utilizá-lo novamente também como um caderno de estudos, onde colocarei algumas considerações sobre os temas que venho estudando. É uma boa forma de absorver o conteúdo e de tentar ser útil pra alguém também. rs.

A grande maioria das pessoas já ouviu falar sobre a Primeira Guerra Mundial. Mas será que todas elas possuem conhecimento real sobre os fatores que levaram à guerra e sobre as reais decorrências desse evento? Eu mesma achava que sabia o suficiente sobre esse acontecimento, até me por à prova e ver quanto há por debaixo desse evento histórico que marca as relações internacionais de forma sui generis.

A estrutura do Sistema Internacional à época

A grande primeira consideração a ser feita pela PGM é que ela rompe com um as estruturas balizares que vinham servindo de base para as relações entre as potências europeias, e consequentemente entre esses países e os demais do mundo: o Concerto Europeu.
Formado após o Congresso de Viena de 1815 o Concerto surge após a deposição de Napoleão Bonaparte como uma forma de se tentar equilibrar a hegemonia na europa de forma compartilhada. A intenção era evitar que um país tentasse impor seu domínio sobre os demais como ocorrera no caso da França, duas vezes diga-se de passagem, a primeira com Luis XIV, o Rei Sol, e a segunda com Napoleão Bonaparte, agora já imbuído de poderes constitucionais e vontades populares em sua empreitada. O fato é, os países da europa nao queriam correr o risco de sofrer de novo o que haviam passado na mão dos franceses, e resoveram então moldar as suas relações dessa forma, em formato de Concerto.

No Concerto, permitia-se o uso da internveção com o intuito de restringir a atuação de um país membro caso ele perigasse ultrapassar os limites das vontades hegemônicas, e além disso, tinha-se nos países centrais a representação dos países menores. O países centrais do Concerto eram Grã-Bretanha, Rússia, Prússia, Áustria e França, que mesmo sendo a potência rechaçada foi integrada como forma de assegurar a validade do mecanismo.

Todavia, apesar de eficaz por muito tempo, o Concerto Europeu começou a encontrar dificuldades no final do século XIX e no inicio do século XX. Após a unificação de países como a Alemanha (1870) e Itália (1868), a Europa começou a ficar pequena para tantos impulsos expansionistas e imperialistas, e o Concerto Europeu começou a ficar demasiadamente restrito sem as novas potências que surgiam.

Quando tinha seus negócios internacionais liderados por Bismarck, a Alemanha possuia mais moderação em sua atuação, além de respeitar as balizas da ordem europeia. Bismark, apesar de grande usufuidor dos acordos secretos para obter aquilo que queria, era um grande líder, e enxergava que para se atingir seus objetivos era preciso cautela e diplomacia, não violência. Porém, após a morte do Rei Guilherme I e a assunção de Guilherme II, Bismarck é deposto e a Alemanha inicia investidas mais agressivas em busca de colônias e mercados consumidores. Á época, a Alemanha já era uma grande potência industrial que contava com inúmeras indústrias e com infra-estrutura de ponta em suas atividades, todavia, a partilha colonial já havia sido feita anteriormente entre aquelas potências que eram previamente unificadas e que possuiam domínio das navegações. Bismarck soubera lidar com esse fato de forma inteligente, através de sua Weltpolitik, convocando em 1884-5 a Conferência de Berlim sobre a partilha da África. Na ocasião, a Alemanha, até então sem colônias no continente africano, conseguiu se tornar a terceira potência colonial na África, conquistando a Togolândia e o Camarões alemão. No entanto, isso nao foi suficiente para aquietar as pretensões do novo rei alemão.

Outro fator deve ser igualmente relevante na análise da PGM, a fraqueza e decadência do Império Turco-Otomano. Fragilizado pelos surtos nacionalistas que acometeram a europa após 1848, e o mundo de forma geral, o "grande doente", como chamado pelos acadêmicos, nao mais conseguia manter toda a extensão de seu territorio centralizada e coesa sobre um único centro decisório de poder. A região dos Bálcãs era particularmente complexa, pois envolvia não apenas uma região marcada por fortes surtos nacionalistas e independentistas (como foi o caso da Grécia em 1850), como era uam região extremamente estratégica, por proporcionar saída para o Mar Mediterrâneo, ponto estratégico de rota coemercial especialmente desejado pela Rússia.

A Guerra da Criméia, de 1853 marca esse impulso russo sobre a região e a fragilidade do Império Turco. Invadida pelo Czar Nicolau I, a região da Criméia, pertencente ao Império Turco, foi alvo de comoções e divergências no Concerto Europeu. França, Prússia, Áustria e GB não se posicionaram de forma similar, ficando a França contra a invasão, a Prússia e a Áustria neutras, em função de sua histórica gratidão à Rússia, e a Grã-Bretanha a favor de uma independência da região, já que lhe interessava mais áreas livres e passíveis de configrarem mercados para seus produtos. Ao final, prevaleceu o Concerto, sendo acordado em Paris que a região da Criméia permaneceria no Império Turco e que os países do Concerto deveriam se comprometer com a manutenção da integridade deste Império.


Três principais fatores podem resumir as causas da guerra:

a) disputas imperialistas
b) unificações tardias
c) alianças militares

a. Quanto às disputas imperialistas, tem-se visões diversas sobre a causa da guerra.

1. Os marxistas atribuem a causa da primeira guerra mundial principalmente ao expansionismo gerado pelo advento industrial das potências e sua necessidade de mercados.  Segundo essa linha de pensamento, caso nao houvesse recolução industrial, nao teria havido a guerra.

2. Outro fator relevante é a questão das disputas naval e ferroviária entre as potências europeias. Com o crescimento naval alemão incentivado por Von Tirpitz, inicia-se uma corrida naval entre alemães e britânicos. Todavia, claramente mais beneficiada por sua localização, a GB possuia maior domínio dos mares que a Alemanha com sua pequena costa. Isso levou a Alemanha a adotar uma politica dos mares, deixando seus navios dispersos pelos mares em vários locais do mundo, e não aportados em casa. Quanto à disputa ferroviária, esta remetia principalmente aos grandes projetos expansionistas alemãos de se atingir novas terras para escoamento de sua produção através da malha ferroviária, incluindo a linha Berlim-Bagdá e Cabo-Cairo, que não chegaram se concretizar.

3. Além disso, como já citado anteriormente, o declínio do Império Otomano é fator consideravelmente relevante e diretamente associado aos crescentes nacionalismos que vinham ganhando força na Europa e na região balcânica igualmente, como o Pan-eslavismo, patrocinado pela Rússia e exercido na região pela Sérvia e o Pan-germanismo, patrocinado pela Alemanha e exercido na região pela Áustria. Ambos envolvendo disputas pelos depojos otomanos em decadência e em crises fortemente influenciadas pelo nacionalismo dos povos partes do Grande Império Otomano.

b. As unificações tardias

Segundo Henry Kissinger elas levaram à Weltpolitik (política mundial) de Bismarck em 1850, que busca por novos territórios em função de uma crescente unificação e participação da Prússia - que então se tornaria Alemanha - no cenário europeu e internacional. Sem colônias, a Alemanha se mobiliza através de movimento expansionistas como o Navalismo e o Imperialismo a fim de adquirir aquilo que ainda não possuía - colônias e mercado consumidor.

c. Alianças Militares

Ao final do século XIX, com a fragilidade do Concerto Europeu e do sistema de Viena, começam a surgir novas alianças no sistema europeu, porém fracas e instáveis. Todavia, começam a se formar alianças entre aqueles que possuiam interesses similares. De um lado os expansionistas, de outro aqueles que tendiam a querer manter a hegemonia compartilhada na Europa e a estabilziar o sistema.
De um lado temos a Tríplice Aliança, formada em 1882 por Alemanha, Império Autro-Húngaro e Itália.
Itália e Alemanha unificadas tardiamente tinham entre si a semelhança da busca por novos territórios e da cobiça por regiões dos Bálcãs, bem como a Áustria.
Do outro, temos a Tríplice Enténte, formada tardiamente, apenas em 1905, inicialmente entre Rússia, França e Inglaterra, países centrais do Concerto Europeu mas que vinham perdendo poder à crescente e sedenta Alemanha.

O início das hostilidades

Como já é sabido, o estopim da guerra é tido como a morte do Arquiduque Austríaco, Francisco Ferdinando, assassinado em Sarajevo, Sérvia, durante uma visita ao país balcânico. No entanto, como vimos anteriormente, a morte do arquiduque não passou de um motivo para dar inicio às hostilidades que já se encontravam latentes nos países europeus. De um lado já se tinha Áustria representando os interesses pangermanistas nos Bálcãs, do outro a Sérvia represetando os interesses paneslavistas nos Bálcãs; a região borbulhava de movimentos nacionalistas que davam instabilidade ao Império Otomano; e o Concerto Europeu já nao era mais pário para estabilizar os impulsos expansionistas da crescente potência germânica.
É claro que uma visita de um austríaco à Sérvia não poderia acabar em boa coisa.

O sistema das alianças

É interessante observar como que o envolvimento dos países na Guerra foi em escala. Inicialmente o conflito se iniciou entre Áustria e Sérvia, como já citado, porém, devido a suas alianças com outras potências, a guerra acabou se tornando generalizada. A Alemanha se envolveu imediatamente ao lado da Áustria, ao passo que a Rússia se prontificou ao lado da Sérvia, ambas madrinhas dos movimentos Pangermanista e Panestavista. Com o envolvimento da Rússia, a França começa a mobilizar seus esforços de guerra, uma vez que existia uma aliança Franco-Russa. Com isso, a guerra já não era apenas local.
Após isso, a Alemanha tem de efetuar uma investida assimétrica em duas frentes, uma em direção à França e outra em direção à Rússia, países aliados e que prensavam-na entre si. Com isso, cria-se na Alemanha o Plano Schlieffen de 1905, no qual tinha-se a ideia de invadir primeiramente a França através da Bélgica, e assim evitar o confronto com as tropas francesas, e depois atacar os russos em um segundo momento. No entanto, ao romper com a neutralidade Belga, a Alemanha acaba dando à Inglaterra o pretexto que esta precisava para se envolver no conflito, já que este país possuía uma aliança com a Bélgica a fim de manter a neutralidade desta útilma.

Incia-se um conflito generalizado, que tem como fases as estratégias usadas no conflito:

1. Guerra de movimento - 1914
2. Guerra de trincheiras 1914-18
    Guerras paradas com pouca movimenta~~ao e que dao oridem ao desenvolvimento técnico de guerra, como submarinos, gases, bombas, etc.
3. 2ª Guerra de movimento - 1918
    Nova iniciativa de investida alemã.
    Saída da Rússia em função da Revolução de Fevereiro de 1917.
    Assina o acordo de Best-Litovsk, no qual manifesta sua neutralidade.
    Dá segurança à Alemanha para tentar nova investida frente à França, que só não vence pelo esforço belga e francês.
    E finalmente em 1918 chegam os norte-americanos, mobilizados a partir do final de 1917, freando a iniciativa germânica.

Os Tratados

1. Paz de Amiens de 1918
    Tratado de Armistício entre os beligerantes.
2. Conferência de Paris de 1919
     a. Tratado de Versalhes
      Remetia os custos de guerra com a Alemanha e obriga-a a aceitar cláusulas territoriais e devolver a Alsácia Lorena, a restringir suas atividades militares e a assumir a indenização dos custos de guerra.
      Os 14 pontos de Woodrow Wilson e a criação da Liga das Nações, o organismo internacional responsável pela manutenção da paz.
     b. Tratado de Saint-Germain-en-Lays
         Assinado com a Áustria-Hungria, que agora é dividida. Logo, assina-se um com a Áustria e um com a Hungria.
     c. Tratado de Neully
         Assinado com a Bulgária, que se envolve posteriormente aos esforços da Tríplice Aliança.
      d. Tratado de Sèvres de 1920
           Deveria ser assinado com a Turquia após a fragmentação do Império Turco-Otomano em seis partes.
            Era mais draconiano que o tratado de Versalhes, porém com o início da modernização e da republicanização da Turquia sob os esforços de Mustafa Kemal, o regime do sultanato chega ao fim no país, e inicia-se uma República sob o comando do herdeiro dos Jovens Turcos.
           Seria preciso um novo tratado que substituisse Sèvres.
        e. Tratado de Lausanne
           Teve participação grega significativa, uma vez que interessava a esse país a conquista de parte significativa das ilhas turcas.
           Grécia ganha aquilo pelo qual batalhou durante a guerra.
           Assim como a Itália ganha as regiões da Itália irredenta, que até então pertenciam à Áustria.

Bom, com isso podemos observar que a Primeira Guerra Mundial não é um evento simples de ser compreendido. Com inúmeras causas, múltiplas decorrências e consequências que transpassariam o escopo dos acordos assinados, a Primeira Guerra Mundial deixaria a Europa arrasada e traria os EUA como a nova potência capitalista e militar do mundo. Além disso, abriria margem para a Segunda Guerra Mundial, que é tida como a revanche daqueles que foram humilhados ao final da Primeira.

No mais, a PGM e seu fim iniciam a tradição do estudo das relações internacionais como forma de se compreender a causa das guerras e a necessidade crescente de evitá-las, além de dar inicio aos organismos internacionais, iniciados na Liga das Nações e seus esforços para garantir a paz mundial, que no entanto não conseguiram evitar um novo conflito.

Bom, espero que isso um dia ajude a alguém. Pelo menos foi últil para mim escrever um pouco sobre esse evento tão importante mas tão complexo das Relações Internacionais.

Beijos

Luiza