quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Os pais da diplomacia atual. Como chegamos até aqui?





Essa semana, estudando história e tendo as maravilhosas aulas do João Daniel, me perguntei quem seria o pai da atual diplomacia brasileira (se é que existe apenas um). Ao mesmo tempo em que o Itamaraty de hoje ainda possui muito de suas linhas tradicionais, advindas da época do Barão do Rio Branco, essa instituição, certamente, não é mais a mesma daquela época. Como assim?

Na República Velha, o Itamaraty era formado por gênios, como o Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, e tantos outros. A base da política externa vinha da genalidade, do prestígio, das boas relações dessas figuras com a eltie governista. República das oligarquias, o poder era concentrado em poucas mãos, e o acesso ao poder acabava sendo algo muito restrito aos coronéis e aos indicados pelo governo. Após a Revolução de 30, com a Era Vargas, isso se modificou. Vargas quis incorporar ao governo outros grupos e camadas sociais, a fim de cooptar seu apoio. Para isso, é possível observar uma incorporação das reivindicações trabalhistas pelo Estado, um incremento nas políticas sociais, uma política de incentivo à industrialização, a fim de agradar os industriais, e uma política meritocrática, que agradasse às classes médias urbanas.

Essa política meritocrática é, atualmente, conhecida como "concurso público". Os concursos públicos são uma obra da Era Vargas, justamente para cooptar as camadas urbanas, que agora poderiam fazer parte do corpo do Estado, sentindo-se prestigiadas por isso. A fim de romper com a velha oligarquia do período anterior, Vargas não apenas acabou com as oligarquias e impôs interventores do governo central em seu lugar, mas acabou com a política do prestígio, dando lugar à meritocracia e a uma democratização do acesso ao poder público, mediante os concursos. A política varguista adaptou o Itamaraty à nova realidade que se aprentava ao Brasil: um país a caminho da industrialização, com amplos interesses no exterior e com uma sociedade urbana crescente. E assim a instituição adquiria as faces da nova socidade brasileira.

No entanto, se, por um lado, Vargas modificou a forma como o Itamaraty hoje funciona, por outro lado, ainda há muito da política "baronesca" no nosso MRE. É inegável que os concursos públicos deram nova cara ao Ministério e que essa política permitiu que pessoas de classes diversas, de origens diversas e de formações diversas tivessem acesso à formulação da política externa; no entanto, muito do prestígio da Era Rio Branco ainda permeia as relações do Itaramaty.

É sempre muito comum nos referirmos ao Itamaraty como uma instância distinta dos demais ministério; falamos da prova de admissão à carreira diplomática como algo distinto dos demais concursos públicos. A meu ver, isso se deve ao fato de que, por mais que a carreira tenha se tornado mais acessível, ela permanece elitizada. A carreira diplomática não é vista como uma carreira burocrática, mas como uma carreira de prestígio, de hierarquia, como à época do Barão do Rio Branco e de Joaquim Nabuco. É interessante observar como que, ao longo do tempo, tradição e modernização se misturaram de forma muito íntima, dando ao Itamaraty a face que hoje ele possui: de um lado, caras jovens, pessoas de múltiplas origens; do outro, a tradição da política externa, do respeito às autoridades, da solidez de uma instituição que possui mais de 100 anos de história e que tem suas raízes fincadas no Império.

Esse é o Itamaraty de hoje, uma instituição que se moderniza com o tempo, mas que permanece balizada em genialidade e tradição. Sua tendência é modificar-se ainda mais, com a nova política que vem sendo adotada com o governo Lula, de ampliar a base diplomática do Brasil. Com essa política de expansão da diplomacia, a tendência é que a carreira se renove, modernizando a instituição conforme a sociedade brasileira se modifica e adaptando-se à nova realidade do Brasil, que hoje em dia se consolida como potência internacional.

E eu serei parte dela, muito em breve!

Beijos mil,

Luiza

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