quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Homangem a Ramiro Saraiva Guerreiro, o Chanceler do Universalismo



Caríssimos,

É com pesar que venho, hoje, aqui, escrever esse post, em homenagem ao falecido Chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro. Ele faleceu ontem, em função de paradas respiratórias, e eu resolvi fazer uma homenagem a ele, bem como uma pequena retrospectiva de sua atuação como Ministro das Relações Exteriores do Presidente Figueiredo.

Particularmente, tenho grande admiração por Saraiva Guerreiro. Tive a sorte, e a honra, de fazer minha monografia sobre sua atuação no caso da Guerra das Malvinas de 1982, e estudei a fundo sua diretriz política e sua condução do Itamaraty no evento em questão. Saraiva era um grande defensor da multilateralização das relações exteriores do Brasil, bem como um diplomata muito envolvido com as causas da integração regional.

A política externa do General João Baptista Figueiredo é muito conhecida por dar continuidade às diretrizes da política externa pragmática de Geisel, bem como por ter enfrentado uma conjuntura sistêmica adversa. Nos anos 80, a situção dos países da América Latina era de crise da dívida externa e de uma redução nos seus mercados consumidores. Os juros estavam altos, em função da reagonomics e do monetarismo adotado pelo presidente norte-americano, e do II Choque do Petróleo de 1979. Esses fatos resvalaram sobre os imensos empréstimos que haviam sido tomados pelo Brasil em tempos anteriores, sobretudo durante o II PND, após o Primeiro Choque do Petróleo, contribuindo para um aumento incrível da dívida externa do país. 

Para manter o país autônomo e dar continuidade ao projeto desenvolvimentista nessa situação adversa, Figuereido nomeou, para ser seu Chanceler, Ramiro Saraiva Guerreiro, que ficou conhecido com o Chanceler do Universalismo. O objetivo de Saraiva Guerreiro era manter a autonomia do Brasil, como Geisel havia feito com seu Chanceler Azeredo da Silveira; porém, agora, a situação era muito mais desfavorável. Saraiva adotava um perfil terceiro-mundista, direcionando esforços para a atuação brasileira em fóruns do Movimento dos Não-Alinhados (diante dos pólos da Guerra Fria) e denunciando as estruturas politicas e econômicas internacionais que perpetuavam a desigualdade e o subdesenvolvimento.

É interessante observar que a política externa de Saraiva Guerreiro acabou atribuindo grande importãncia à América Latina, sobretudo à América do Sul. Isso se deve ao fato de que os esforços de cooperacação com a África foram limitados, em função da crise da dívida naquele continente; além disso, a intensificação da cooperação com o Oriente Médio também foi dificultada, em função da Guerra do Iraque de 1980 e suas consequências sobre a região. O Brasil acabou por se fazer mais presente na América Central, participando do Grupo de Apoio a Contadora, que tentava mediar as intevenções norte-americanas na América Central,  e na América do Sul, que se tornava, cada vez mais, um espaço valorizado para a diplomacia brasileira.

Para Vizentini, as relações bilaterais extra-hemisféricas atingiram seu apogeu no Universalismo de Saraiva Guerreiro. O Brasil continuava a política de Geisel, de estabelecer boas relações com todos os hemisférios de mundo e buscar aprofundar suas relações; todavia, os resultados foram limitados, em função das tendência desfvoráveis que pairavam sobre o mundo, naquele momento. A cooperação com a Europa Ocidental e as potências do Primeiro Mundo foram limitadas; as relações com a África permaneceram estratégicas e em aprofundamento, mas seus resultados também foram minimizados; com o Oriente Médio, o mesmo se aplica, ficando as relações mais restrita à venda de material bélico, a forma de inserção encontrada naquele momento.

Nesse momento, a integração sul-americana, sobretudo com a Argentina, começou a ganhar força. O Brasil do governo Figuiredo assinou, em 1979, o Tratado de Corpus-Itaipu com a Argentina, solucionando as questões pendentes sobre a instalação da usina hidrelétrica binacional, e abrindo espaço para a assinatura do Acordo Tripartite, que deu origem à Hidrelétrica de Itaipú. Posteriormente, em 1982, o governo Brasileiro adotou neutralidade não equidistante em favor da Argentina na Guerra das Malvinas (de acordo com Hélio Jaguaribe), ganhando a credibilidade e a confiança do governo Argentino que, naquele momento, enfrentava o governo Britânico pela posse das Ilhas no Altãntico Sul.

Vizentini diz que Figuereido e Saraiva Guerreiro substituíram o pragmatismo responsável de Geisel pelo Universalismo, no qual, pela primeira vez, a América Latina era a prioridade da agenda brasileira, ultrapassando a retórica e as iniciativas de alcance ilimitado. Era o início de uma política assertiva rumo à integração regional, que pode ser observada na substituição da ALALC pela ALADI, em 1980, mediante o Tratado de Montevidéu, na participação do Brasil no Grupo de Cartagena, sobre a politização da dívida externa dos países latino-americanos e no Grupo de Contadora.

O objetivo do Universalismo de Guerreiro era permanecer com o projeto desenvolvimentista autônomo brasileiro em um mundo com condições desfavoráveis. A busca por manter a profundar a multilateralização das relações exteriores do Brasil mostram isso. Apesar de todas as dificuldades, o Universalismo de Saraiva Guerreiro foi bem sucedido, na medida em que conseguiu aprofundar os laços da integração regional, manter boas relações com os mais diversos hemisférios e dar algum alento à Balança Comercial brasileira, que atingiu superávit nessa época - mas que, no entanto, não foi suficiente para minimizar os danos causados pela dívida externa.

Saraiva Guerreiro, Chanceler do Universalismo, foi um modelo de diplomata que soube aproveitar os grandes feitos do passado e moldá-los de acordo com o presente. Descanse em paz, Chanceler.


Um beijo a todos,

Luiza

3 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog, gostei dele, muito interessante.
    Aproveito para te convidar a veres o meu, http://www.devaneiosdevida.blogspot.com/, é multemático, pois eu gosto de falar um pouco de tudo e aproveita e vê algumas imagens deste pequeno país mas grande na alma que é Portugal. E sempre podes tambémn deixar por lá um comentário.
    Cumprimentos

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  2. Oi Luiza! Tenho 16 anos e penso em prestar RI. Fiquei muito feliz em achar o seu blog, por você ser mulher e tentar esta carreira. Acho que seus posts irão me ajudar a tomar a decisão e me dar um pouco de conhecimento.

    um beijo, Mariana

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  3. Veiga e Mariana, muito obrigada por acompanharem o blog e pelos comentários!
    Espero vê-los por aqui mais vezes :)

    Grande beijo,

    Luiza

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