sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Um amor anárquico




Hoje parei para refletir sobre o quanto nossas vidas são permeadas por relações capitalistas. Não apenas no que concerne ao modo produtivo de nossas sociedades, toda a nossa vida, em todas as suas mais distintas esferas, é permeada por relações de consumo, de utilidade, de novidade.

Tratamos tudo em nossas vidas da mesma forma com a qual tratamos um objeto. Nos encantamos por uma blusa nova, compramos ela, usamos ela durante um tempo, e, logo, nos enjoamos e a descartamos, pois já estamos interessadas em outra. Na vida afetiva, não é diferente. Nós nos encantamos pelas pessoas, nos apaixonamos, e, depois de algum tempo, enjoamos delas e as descartamos, da mesma maneira como fazemos com todo o resto em nossas vidas.

Entendo que, na vida, as coisas são passageiras, são efêmeras. Mas será preciso mesmo descartar tudo, até mesmo pessoas e sentimentos, com tamanha facilidade? Com tamanha rapidez? Acho que chegamos em um ponto, em nossas sociedades, em que simplesmente não enxergamos mais a diferença entre pessoas e coisas, entre sentimentos e objetos. Olhamos para tudo com olhos utilitários, tentando enxergar até onde aquilo nos é útil e até quando aquilo deve permanecer em nossas vidas. A partir do momento em que as coisas perdem essa utilidade, nós simplesmente nos livramos dela.

Acho que é por esse motivo que, hoje em dia, os relacionamentos duram menos, as pessoas se divorciam mais, e o consumismo aumenta a cada dia, repercutindo, até mesmo, sobre o meio ambiente e o clima. O utilitarismo e a sociedade do consumo chegaram a um ponto em que as pessoas querem ser tão úteis, tão ágeis, tão práticas, sem perder tempo, que, no final, acabam todas sozinhas e, o pior, descontando sua solidão nas compras, na comida, na bebida...

Nós, seres humanos, precisamos enxergar que o real, o essencial, é invisível aos olhos, porém, muito visível e perceptível aos sentimentos. Pessoa do mundo, você que me lê agora, pare de tentar otimizar seu tempo, suas relações, sua família. Enxergue as pessoas como elas são, ame-as desse jeito, vá além do que seus olhos podem ver e não ouça o que a sociedade lhe diz. A sociedade que te fala que você deve sempre ter um namorado novo, que te diz que o bom é ser pegador, é a mesma que quer te vender um carro, uma roupa nova, a cada dia que passa. Essa sociedade vive disso. Não mine aquilo que é tão lindo do jeito que é apenas para tentar se adequar, apenas por repetir um modelo que, no fundo, nem dá certo.

Eu quero uma vida menos capitalista, amigos liberais e um amor anárquico. Uma vida menos capitalista porque eu não quero precisar estar sempre com coisas novas, sempre com aquilo que é mais útil, sempre na moda e sempre tendo o dinheiro como parâmetro. Amigos liberais, que façam o que querem, que digam aquilo que pensam e que expressem aquilo que sentem, sem interferências, sem racionalidade em demasia. Um amor anárquico, sem regras, sem um lado mais forte que o outro, sem nenhum tipo de autoridade, de previsão, de obrigação. Eu quero um amor completo, real, possível, juvenil e inocente. Eu quero o amor que ele for, do jeito que for, como tiver de ser, quando tiver de ser.

Eu quero uma vida livre. E isso começa em mim.

Um comentário:

  1. Amigo estou começando a me interessar pelo estudo para a diplomacia, mas sou muito cru ainda em assuntos de política e política internacional do brasil... o que vc me recomendaria para sair dessa ignorância política? Começar a ler The Economist e The Guardian todos os dias? Ou vc recomenda outras fontes? Fico no agurado de um feedback aqui no blog! Obrigado, Thiago Passos

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